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O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) divulgou nesta quarta-feira (12) um relatório alarmante: 2024 foi o ano mais mortal para profissionais da imprensa desde que a organização começou a registrar os dados, há 33 anos. Um total de 124 jornalistas em 18 países perderam a vida, sendo 70% das mortes (85 casos) atribuídas às Forças Armadas de Israel durante a guerra em Gaza. O conflito não só quebrou recordes históricos de violência contra a mídia, como expôs uma "deterioração global nas normas de proteção a repórteres", segundo a entidade.
A ofensiva israelense em Gaza, iniciada após o ataque do Hamas em outubro de 2023, foi responsável pela morte de 85 jornalistas – 82 palestinos e 3 libaneses –, muitos deles em ataques aéreos ou operações terrestres. O CPJ acusou Israel de "abafar investigações", "transferir culpa" e "ignorar o dever de responsabilização" pelas mortes, destacando que 10 casos foram classificados como assassinatos seletivos e outros 20 estão sob análise por possível intencionalidade.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) negaram ter como alvo jornalistas, afirmando que tomam todas as medidas viáveis para proteger civis. No entanto, testemunhas e investigações independentes apontam ataques a veículos e equipes claramente identificadas com insígnias de imprensa, como no caso do videojornalista da Reuters Issam Abdallah, morto por projéteis israelenses no Líbano em outubro de 2023. Fora de Gaza, o Sudão e o Paquistão registraram o segundo maior número de mortes, com seis jornalistas cada.
No Sudão, a guerra civil e a instabilidade política criaram um cenário de caos, enquanto no Paquistão, a retomada de assassinatos após três anos de trégua foi ligada à agitação eleitoral e a grupos extremistas. O México, conhecido por sua periculosidade para a imprensa, teve cinco mortes. O CPJ criticou a "inoperância dos mecanismos de proteção" no país. No Haiti, dois jornalistas foram executados por gangues, que controlam 80% da capital, Porto Príncipe.
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Assassinatos Seletivos e a Vulnerabilidade dos Freelancers
Pelo menos 24 jornalistas foram deliberadamente mortos por seu trabalho em 2024, um aumento de 50% em relação a 2023. Desses, 10 casos ocorreram em ações atribuídas a Israel, e outros 14 no Haiti, México, Mianmar, Sudão e Índia. Os freelancers, que representaram 35% das vítimas (43 mortes), enfrentaram riscos ampliados pela falta de recursos e segurança. Em Gaza, muitos trabalhavam sob bombardeios, sem acesso a equipamentos básicos ou abrigos, enquanto cobriam a crise humanitária.
O relatório destacou a impunidade como um desafio crítico. Israel apareceu pela primeira vez no Índice Global de Impunidade do CPJ, ocupando o segundo lugar, atrás apenas do Haiti. Nenhum membro das IDF foi responsabilizado pelas mortes de jornalistas, e investigações sobre possíveis crimes de guerra permanecem estagnadas. "Hoje é o momento mais perigoso para ser jornalista na história do CPJ", declarou Jodie Ginsberg, diretora-executiva da organização, alertando para a erosão global da liberdade de imprensa.
Contexto histórico e repercussões internacionais
O número de mortes em 2024 superou o recorde anterior de 113 jornalistas em 2007, durante a Guerra do Iraque. A guerra em Gaza, porém, concentrou mais vítimas em menos tempo: três meses de conflito equivaleram a um ano inteiro de violência em outros cenários. A comunidade internacional, incluindo a ONU, pressiona por investigações independentes. Em maio de 2024, o Tribunal Penal Internacional (TPI) solicitou mandados de prisão contra líderes do Hamas e de Israel por crimes de guerra, mas avanços concretos são escassos.
Com seis jornalistas já mortos em 2025, o CPJ pede as seguintes ações imediatas: Proteção legal reforçada para repórteres em zonas de guerra; Acesso independente a regiões sob bloqueio, como Gaza; e punição exemplar a autores de assassinatos seletivos.